quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O MAR

Texto de Regina Ramos dos Santos
com fotos de Maria de Fátima Barreto Michels


O mar é algo tão gradioso, tão majestoso, tão maravilhoso, que, ao pensar em escrever alguma coisa sobre ele, sinto-me como que um grão de areia...





MAR , MARÉ , MARESIA...

Dulce Claudino




Lua cheia no céu.
No mar, fluxos de serpentinas multicores
Adornam a orla espumante
Sobrepujando as ondas que beijam a areia
Num zumbido cantante.

Bem longe, acariciando o infinito
topo de uma embarcação toca de leve as teias douradas
E baila , valsando notas de um refrão
Sonorizado nas guitarras das ondas enluaradas.
Bem perto, o sonhador espelha-se
Na versão silenciosa de uma penetrante onda
Vasculha suas entranhas, encharcando-as   de transparentes bolhas suaves, gélidas
Molhando a alma na execução de sua ronda.

A escuridão domina no apagar das velas pelo sopro de uma negra nuvem
Afugenta-se o brilho das serpentinas multicores
Os pés do sonhador caminham sem rota, vagando sobre as ondas em ziguezague
As narinas aguçadas saboreiam os odores.

                        Mar , maré , maresia...
                        Um acalanto, que alimenta o sonho
                         Ao embalar a rede de quem dorme ao léu.

                                 Mar , maré , maresia...
                                 Doce seresta de quem vive em festa
                                  Por ter como berço o aconchego do enlace
                                  Entre MAR  e  CÉU.
                               


(Imagem: http://www.photos8.com/)

INDIGESTÃO DO MAR

Maria Heloísa Fernandes

A inquietação das ondas
Num balanço estonteante
Enauseavam o mar
Que  incessantemente
Vomitava aqueles sólidos
Impossíveis de digestão
Consequência do descaso do homem
Com o bem maior do universo: a Natureza!



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O PESO DO SIM

J. Machado

A lágrima dela molhava o sorriso
Ele parado, dividido em metades
A metade dele e dela que ia.
Jamais seria um todo, apenas saudades.

Aquela difícil decisão
Tomada de dor e tormento
Aquele momento, e enfim
Agora sabia, o não tinha o peso do sim.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O PESO DO SIM

Maria Heloísa Fernandes


Antes que deixasse sua vida, naquele momento de intensa dor, somente o que vinha a sua mente era que queria poder dizer um SIM, de  quero seu perdão, para todos os momentos em que estive ausente com você meu filho!


O GRANDE PRÊMIO

J. Machado

O dia estava abafado, e eu tentava tirar no violão “Corsário”, de João Bosco em lá menor.  “Meu coração tropical está o coberto de neve, mas...” Linda música, “um dia consigo tocá-la” - prometi a mim mesmo. Entretanto, fui interrompido por aquele barulho do celular, aquele quando chega mensagem, parece um monte de ferro caindo. Tchurrrummm! Tchurrrummm!  “Deve ser pra recarregar” pensei. Nada disso era uma mensagem que dizia assim: WEB RED GLOGO TORPEDO SHOW INF; SEU CELILAR FOI SORTEADO C/ 100. MIL REAIS. NA SUA RECARGA! LIGUE DO SEU (a marca do celular) PARA ESTE NÚMERO (final 64) SENHA 95690.



            Eu já sabia que se tratava de um trote, então também resolvi brincar. Liguei. Chamou três vezes.
- Promoções premiadas, boa tarde (muito alegre, vibrante.)
- Falo com quem? - perguntei.
- Meu nome é Mauro Ferraz de Albuquerque Antunes e pra sua segurança, nossa conversa está sendo gravada, qual é o seu nome?
- Meu nome é João (falei fingindo nervosismo)
- Seu João, o senhor sabe o que aconteceu com o Senhor?
- (bem ingênuo) Li a mensagem, mas não entendi nada.
- Seu João meu amigo, o senhor acaba de ganhar cem mil reais visse?
- Tá brincando?
- Sério seu João como o Senhor está se sentindo?
- (mais fingido ainda) Ai Meu Deus!  Não sei nem o que dizer!
- Digo mais Seu João, além dos 100 mil reais vem por aí outros prêmios: moto, carro e até casa meu rei! Pra isso basta o senhor participar da nossa gincana. O senhor já tem garantidos, cem mil reais (falou este valor longamente assim: cemmmmm milllll reaaaaiss)
- Que gincana? Posso ganhar ainda mais prêmios (não me agüentava mais pra não rir)
- Claro seu João, mas, pra isso, o senhor tem que atingir nesta gincana 100 pontos, mas é facinho, facinho!
- Como assim? Ai Meu Deus! Será que eu consigo? Parece tanto... É de conhecimentos gerais?
Que nada meu bichinho! São pontos que o senhor vai conseguir através de cartões de recarga de três operadoras. Disse: A, B, C.
- Como? Não entendi!
- O senhor vai agora comprar cem reais em cartões de recarga, digita os números e se isso atingir 100 pontos vai ganhar além dos cem mil reais, uma casa, uma carro zero, uma moto, com a possibilidade de ganhar ainda muito mais.  – Parei. Eu não agüentava mais sem rir.
- Senhor Mauro!
- Fala seu João, me diga!
- Porque tu não vai comer merda?
- Não entendi seu João. (embaraçado)
- Merda. Vai comer merda!
- Não ouvi direito.
- Você pensa que acreditei em alguma coisa que me falou?
- Olhe, olhe, você pode perder até os cem mil reais que ganhou!
- De onde você está me ligando e tentando me dar este “171”? – perguntei.
- Como? Não entendi.
- Sei muito bem deste golpe!
- Eu vou ter que desligar (meio zangado).
- Não, não desligue agora você vai me ouvir safado!
- Seu João, o senhor quer saber? Vai pra p. que pariu e vai comer merda também! Tu.tu tu.tu... 
- Na verdade ele me disse muito mais coisas antes de desligar o telefone, mas, deixa para outra história.

O PESO DO SIM

Dulce Claudino

      - Sim ! Gritou com todo o ar que exalava dos pulmões.
      - Sim , consciente? Respondia o apresentador àquela voz estridente da loirinha de maçãs avermelhadas, que repetia: Sim. Sim . Sim
      - Você pensou bem no objeto que está adquirindo ? Foi presente de um anônimo , que deixou na sala de recepção para ser sorteado no programa. Ninguém verificou o seu conteúdo.
       - Mesmo assim eu quero. O pacote é lindo ! Todo revestido de estampa colorida e o laço de renda é um mimo , retrucava a loirinha frenética.
       - Pois bem, é todo seu, venha buscá-lo.
        A mocinha caminhando entre as cadeiras exibia o seu pacate que só abriria ao chegar em sua casa. Queria um momento só para ela e oseu presente.Olho grande por perto, nem pensar.
         Já em casa, sentada confotavelmente em seu sofá preferido, foi tranquilamente desenlaçando a renda, desembrulhando o pacote e a caixa estava aberta.
          Um grito de terror, misturado ao pedido de socorro fez com que toda a vizinhança invadisse a sala , onde , a loirinha petrificada apontava a caixa e o seu conteudo espalhado sobre o tapete.
         - Que loucura ! Por que tanto desespero? Comentou o velho Borba e acrescentou :
         - Eh! Loirinha ? São bichinhos de plástico : aranhas, lagartichas, taturanas, jacarezinho, até umas cobrinhas corais...
          Misturando o riso ao pranto a graciosa loirinha balbuciou.: - É o peso do SIM  desconhecido...
         - Frase espetacular,  disse Borba . Você entendeu " Como as aparências enganam ? ". 



O PESO DO SIM

Márcio José Rodrigues


Ela vivia sonhando acordada com uma reviravolta em sua existência sem graça. Não satisfeita com a boa vida e prestígio que desfrutava em sua cidadezinha de interior, a moça mais bonita do lugar, perdia dias e horas lendo revistas sobre artistas, preenchendo e enviando milhares formulários, ouvindo as músicas no rádio ou assistindo novelas, programas de auditório e reality shows. Delirava por muito mais, ser rica, famosa, aparecer na televisão.
Numa tarde de rotina, foi aos gritos que abriu um envelope de uma emissora de TV, dizendo da aprovação para participar em rede nacional no programa "DIGA SIM, DIGA NÃO".
A notícia correu como um corisco e num instantinho todo mundo sabia da sortuda e a carreira de superstar acabara de explodir ali mesmo em frente à sua casa; uma multidão querendo tocá-la, abraçá-la, rasgando-se por um autógrafo. O único que não gostara nadinha da história era o bonitão comandante da polícia local, Tenente Liones Genário Barreto, que sonhava sinceramente declarar-se e pedí-la um dia em casamento e com ela construir seu futuro, sua história. Mas, coitado embora ela o notasse e às vezes até sonhasse em estar em seus braços, ele era ainda pequeno para os suas ambições muito maiores.
E foi assim, com faixas e cartazes, o prefeito, as autoridades, banda de música, seu nome repetido aos gritos histéricos e até um cordão de isolamento providenciado pelo tenente em prantos, que ela acenou do helicóptero pousado no campinho de futebol, que a levaria ao aeroporto da cidade vizinha de onde partiria de jatinho para São Paulo. Seria o prenúncio de uma despedida e talvez ela nunca mais voltasse
No estúdio da emissora, as coisas eram bem menos glamorosas do que imaginara. Tudo era falso, de isopor, papel colorido e efeitos luminosos. O auditório repleto tinha algo de assustador. A boca secou em instantes, quando o apresentador anunciou próximo quadro. E agora, Brasil, o programa que está emocionando o país Tudo parecia falso. Um cartaz fora da vista das câmeras avisava: aplausos e gritos. A claque respondeu freneticamente com aplausos e gritos. Logo depois, a ordem era "silêncio" e a platéia obedeceu..
Fechada hermeticamente em uma cabine onde podia ver apenas uma tela de monitor com propagandas da emissora, tinha à frente de sua boca um microfone e em seus ouvidos, dois potentes fones de estúdio tocando em volume absurdo, músicas de cantores conhecidos.
O apresentador começou:
- E agora, senhorita Dulceline Regifátima, consegue me ouvir?
- Siiiiiim!
- Então vamos à primeira oferta! Basta responder sim ou não. Você quer este pente de plástico?
Ela não podia ouvir a pergunta, apenas a mensagem na tela: DIGA SIM, DIGA NÃO!
Aquilo era uma tortura, mas respondeu:
- Siiiiiim!
- E agora, quer trocar este pente de plástico por um refrigerador Trastemp , aço inox, frostfree?
-Siiiiiiim!
- Quer trocar este espetacular Trastemp por um automóvel BMW 0 km?
- Siiiiiiim!
- E agora, senhorita Regiline Dulcefátima, perdão, Dulceline Regifátima, é a hora da última pergunta. Quer trocar esta flamante BMW 0 km, ano 2011, no valor de quinhentos e cinqüenta mil reais, por esta galinha viva?
- O país inteiro berrava em frente aos aparelhos de TV, desesperadamente, não! não! A platéia estrebuchava, urrava, esperneava, mas ela não podia ver nem ouvir nada, apenas a voz de Natália Secco cantando "ler em teus lábios a palavra sim". Ela achou que aquilo fosse um sinal.
E gritou com todas as forças do peito:
- Siiiiiiiim!!!



Quando saiu da cabine, tonta, tropeçando nos altíssimos saltos acabou vendo a merda toda que havia feito com aquele sim. Sozinha no hotel, pensou em matar-se, a vergonha do retorno à cidadezinha, o vexame a gozação. Trancou-se em casa. Não queria atender a ninguém. Uma voz forte gritou lá fora, "CORREIO" e só assim ela abriu para receber uma caixa de papelão cheia de buracos redondos. Era a galinha, com os cumprimentos da emissora pela participação no programa. O carteiro malicioso saiu cantarolando có- ró-có-có , có-ró-có-có....
Ainda estava chorando, quando alguém muito insistente bateu repetidamente à porta.
Abriu!
O tenente estava ali, imponente em sua farda camuflada, a boina verde meio pendida, deixando ver o lado da cabeleira negra, os coturnos brilhando e a pistola automática no coldre pendendo do cinturão, completava a imagem de um super macho, encantado pelo fetiche da farda.
A galinha, desastradamente, ou não, apareceu andando pela sala. Dulceline queria morrer de novo, enfiar-se dentro da caixa de papelão, quando Liones Genário Barreto falou-lhe calmo, com um tom de ternura na voz:
- Você sabe cozinhar?
Ela não entendeu o propósito da pergunta, mas ele logo arrematou:
- Porque não prepara esta galinha e me convida para jantar?
Num impulso, ela jogou-se em seus braços e enlaçou-lhe o pescoço, em pranto.
- Quer casar comigo? - ele perguntou de chofre, como numa decisão militar.
Desta vez, entre soluços, ela viu pela primeira vez que toda a sua felicidade sempre estivera ali ao seu alcance, e respondeu baixinho e docemente:
-Sim!

O PESO DO SIM

Flávio Goulart Barreto


Ela disse um primeiro sim e dali em diante tornou-se escrava daquele mau caráter. Libertou-se quando disse sim novamente, quando ele perguntou se ela queria ir embora.

O PESO DO SIM

Regina Ramos dos Santos




E a tão almejada oportunidade profissional surgiu como por encanto... Uma das vagas daquela disputada especialização no Rio de Janeiro era finalmente sua! Mas, logo, a euforia inicial deu lugar a uma dúvida atroz - valeria a pena deixar para trás marido e filhos, durante um ano inteiro? É certo que, concluído o curso, poderia melhorar ainda mais a renda familiar e, com isso, ajudar a realizar diversos sonhos sonhados em conjunto. Mas, mesmo assim, valeria a pena privar-se da companhia dos seus amores e privá-los também da sua? "Um ano passa rápido." - todos diziam. "Você nem vai sentir o tempo passar." - diziam outros. Intimamente, ela pensava: "Quanto tempo eu tenho ao lado deles? Certamente, este um ano fará falta nesta contagem regressiva e nada compensa isso." Após alguns dias de intensa reflexão, para surpresa geral, optou pelo "não", porque o "sim" representaria um peso muito superior às suas forças emocionais... E jamais se arrependeu!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O PESO DO SIM

Jacqueline Aisenman

O peso do sim são suas consequências. Dizendo isto ela levantou o vestido com as mãos apressadas e saiu correndo pela porta da igreja.