sábado, 23 de julho de 2011

180 anos da Imprensa Catarinense


Historiador Norberto Ulysséa Ungaretti é entrevistado por Fatima Barreto Michels (*)


                                                    
- Que significa fazer um trabalho sobre a vida do fundador da Imprensa Catarinense?

 Dr. Norberto – Para mim é uma realização pessoal porque há muitos anos trabalho nesse projeto. Nasci na casa de meus avós maternos, à rua Jerônimo Coelho, na Laguna. Fiz todo o curso primário, como à época se chamava, no velho Grupo Escolar “Jerônimo Coelho”, onde tive como primeira professora (e até ao segundo ano) minha mãe, profª Otília Ulysséa Ungaretti, que ali lecionou durante todo o longo exercício de seu magistério, assim como meu tio profº Romeu Ulysséa. Minha prima-irmã Elisabeth Ulysséa Arantes (Betinha) também ali lecionou. Ali estudaram meus quatro irmãos, sobrinhos, primos, centenas de parentes e amigos. São circunstâncias que me ligam afetivamente ao nome Jerônimo Coelho. Resolvi, por isso, há vários anos, intentar uma biografia dele, até por ser o lagunense mais ilustre. Também é uma homenagem que presto à minha terra.

- O senhor pertence a categoria dos historiadores genealogistas então,  nesta biografia,   a ênfase maior seriam as raízes familiares de Jerônimo Coelho?
 Dr. Norberto  Não. No primeiro capítulo há referências às origens familiares de Jerônimo Coelho, sim, mas apenas ali. E no curso do livro uma outra menção de parentes seus. Mas nada mais do que isto.

- Jerônimo Coelho foi militar e também o patrono da Maçonaria de Santa Catarina, um homem de atuação e talento pródigos. Qual  sua expectativa acerca do modo como este livro será recebido entre os intelectuais, os estudantes e o público em geral?
Dr. Norberto – Na verdade, não tenho nenhuma expectativa nem preocupação quanto a isto. O livro não terá repercussão fora de Santa Catarina porque Jerônimo Coelho não é um personagem nacional. Fora daqui ninguém o conhece, a não ser alguns estudiosos nos estados que, então Províncias, ele governou, ou seja, Pará e Rio Grande do Sul. A vida dele foi a de um exemplar político e servidor do Estado mas de padrão comum, e sem emoções, dessas que despertam o interesse das pessoas em torno dos personagens históricos. Em Santa Catarina, sim, poderá haver maior repercussão porque, na verdade, são tratados e desenvolvidos muitos temas que dizem respeito à história do nosso Estado, principalmente a propósito dos discursos de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados, da política provincial (onde ele foi o maior líder no seu tempo), da história da fundação da imprensa em Santa Catarina e da Sociedade Patriótica Catarinense, entidade de larga atuação, que ele fundou e presidiu. Ainda assim, entretanto, será uma repercussão limitada, porque é pequeno, mesmo no universo dos leitores (que, por sua vez, já é também pequeno em relação à população letrada), o número dos que se interessam por obras do gênero.

- Há um fato inusitado que o tenha surpreendido durante as incursões dessa pesquisa?
 Dr. Norberto – Um fato que me surpreendeu, agradavelmente, foi saber que um lagunense, o dr. João Francisco Coelho, tio e protetor de Jerônimo, bacharelou-se em leis e em cânones (direito canônico) pela Universidade de Coimbra nos primeiros anos do século XIX. Já pensou o que significava, naquele tempo (duzentos anos!)  sair de Laguna para ir estudar na Universidade de Coimbra?  Este dr. João Francisco era tido pelos nossos historiadores  como médico. Minhas pesquisas, entretanto, demonstram outra coisa, revelando quais os cursos que seguiu na famosa Universidade portuguesa. Este esquecido lagunense foi o primeiro bacharel nascido em Laguna e um dos primeiros de Santa Catarina. Também tive agradáveis surpresas com os discursos de Jerônimo Coelho na Câmara dos Deputados. Não tinham sido estudados, até agora, com a profundidade em que os estudei. Sua narrativa sobre a República Catarinense (particularmente importante por ser contemporâneo dos fatos), seus discursos sobre colonização em Santa Catarina, sobre o carvão catarinense (muito antes do início de sua exploração), sobre assuntos militares, entre outros, revelam o homem culto e preparado que ele foi, além de incansável defensor dos interesses catarinenses.


- Há quanto tempo o senhor vem trabalhando na obra? 
  Dr. Norberto – Há muitos anos. Para você ter idéia, em 1976 foi publicado um livro comemorativo aos 300 anos de fundação de Laguna. O coordenador da publicação foi o notável historiador, ilustre lagunense e meu saudoso amigo Oswaldo Cabral (com toda justiça homenageado na denominação de uma das principais ruas de Laguna), o qual, na apresentação da obra, disse que ali não havia nada sobre Jerônimo Coelho porque disso eu me ocuparia, em livro que tinha em preparo... É claro que não trabalhei no livro durante todos esses anos. Afazeres profissionais, no período, desviaram-me da obra. Retomei o ritmo há quatro anos, inclusive contando com a colaboração de pessoas que, sob minha orientação, realizaram pesquisas em jornais do Rio de Janeiro (Biblioteca Nacional) e Porto Alegre, em caráter profissional, pagas por mim. Embora me tivesse sido até oferecido, não aceitei patrocínio de nenhuma instituição ou do Governo, pois assim não fiquei nem estou sujeito a qualquer tipo de cobrança. Quando o livro estiver pronto, sairá.

- Qual o título que o senhor deu ao livro? Quantos capítulos? Há uma previsão de data para o lançamento?
 Dr. Norberto – O título do livro será, provavelmente, “Jerônimo Coelho”, apenas isto. Ou então “Jerônimo Coelho, o catarinense mais ilustre do Império”. Ainda não me decidi. Tenho 14 capítulos escritos, com fartas notas de rodapé. Já poderia publicar o primeiro volume, com sobra de material para o segundo. Mas considerando que faltam para finalização da obra, segundo calculo, uns três ou quatro capítulos, acho que vou trabalhar nisto a fim de que possam ser publicados os dois volumes, ao mesmo tempo, no segundo semestre deste ano em que se comemora o 180º aniversário da fundação da imprensa catarinense e também da Maçonaria em Santa Catarina, ambas as fundações devidas a Jerônimo Coelho.

(*) Entrevista concedida  em maio de 2011  à Ma. de Fatima Barreto Michels para a revista Balaio das Letras/Grupo Carrossel
Não pode ser reproduzida sem a autorização da entrevistadora