terça-feira, 2 de novembro de 2010

Retrato

J. Machado

Minha mãe é uma pessoa que gosta de se vestir bem.
Suas roupas são escolhidas com certa pompa.
Gosta do que é bonito.
Porém, o que seus olhos vêem de esplendoroso
É a beleza da simplicidade!
De tão simples que é minha mãe brilha!
Ela se veste muito bem!

Ela só quer comer o que há de melhor!
É exigente no paladar! Não é qualquer coisa que gosta!
Por vezes torce o nariz, mesmo estando à mesa.
Prefere peixe assado, pirão de caldo,
Rabada, chuchu no feijão, salada de alface,
Farofa de ovo frito... Minha mãe pede cada coisa!

Ama exageradamente, mas não se prende a ninguém.
Às vezes me incomoda, parece que é a favor da impunidade.
Quando lhe conto sobre um desafeto de um parente,
Ele entende minha tristeza! Ouve-me com os olhos,
Chora comigo, mas é uma péssima juíza.
Ela me abraça me beija, mas nada de sentença.
Somente o abraço caloroso, o beijo.
Minha mãe me bota em cada uma! Só me manda perdoar.

Minha mãe não serve para estilista!
Nunca vai ser uma cozinheira famosa, dessas da televisão.
Também nunca vai poder bater o martelo!
Porém, ela é o que existe de mais chic, o que nunca sai de moda!
Ela é o próprio sabor! Enche-me a boca só em vê-la!
Minha mãe é a própria luz!

(Os anjos levaram minha mãe Ruth pelas mãos, no amanhecer do dia 28 de outubro de 2010.)

Imagem de Frances Hodgkins

Um comentário:

Anônimo disse...

J.Machado estréia em alto estilo. Cada vez que venho ao blog e vejo
a apresentação de mais um colega do Grupo CARROSSEL, sinto muita alegria.Parabéns José Genário, que
unindo sua leveza de menino à arte
do poeta, brindou-nos com um
RETRATO da legítima beleza de Dona Rute.Parabéns Jacque por nos capitanear virtualmente neste veículo que corre o mundo em segundos. Bjão da Fatima em manhã plena de luz e canto de pássaros aqui na Laguna.