Dona Corina entregou a alma a Deus, deixando como herança um falante papagaio à sua querida sobrinha Cleusa.
- Credo, Onório, praguejava Cleusa. Ter que conviver com esse bicudo, já é um castigo.
- Qual nada, mulher. Ele é falante e até canta um trecho do hino do Corinthians.
- Não duvido? Nossa vizinha Selma vai ficar tiririca. Ela é botafoguense rachada.
- Gorda! Gorda! Gorda!
- Cala esta boca, bicudo !
De nada adiantavam as ordens de Cleusa. Quanto mais berrava , mais o loro cantava:
- Salve o Corinthians ... Gorda... O campeão... Gorda...
- Miséria! Vou te matar, ameaçava e o bicudo calava meio amedrontado.
O tempo passou. A vizinha não suportando os insultos, mudou-se. O loro parou de cantar? Jamais. Parecia um CD que nunca arranhava. Até que numa manhã chuvosa Onório espantou-se ao ver o papagaio esticado na gaiola.
- Cleusa, acorda, o bicudo morreu.
- Maluqueceu marido ? Ontem, antes de dormir ainda escutei aquela canção que ele compôs pra mim.
- Venha ver. Morreu babando o pobre!
Cleusa nem olhou o pássaro, passou de fininho e pediu ao marido que o enterrasse no fundo do quintal. O sepultamento era uma tarefa que a aterrorizava, ainda mais o do bicudo cantor e praguejador.
E o tempo que não para , trouxe a Cleusa umas dores lombares.
-Onório, amanhã vou ao médico do SUS. Marquei consulta no postinho do PSF.
- Fez bem, mulher. O Doutor Fagundes entende de mulheres. Ele apalpa, apalpa, até descobrir a doença. O compadre
Juca comentou que a comadre voltou da consulta com umas manchas roxas, mas que ele acertou no remédio, ah! Acertou.
- Mas comigo vai ser diferente! Vou logo pedindo pra bater uma chapa.
A visita ao consultório foi só o tempo de fazer o Raio X e descobrir o motivo das dores.
- Dona Cleusa , a senhora sofre de Osteofitose.
- Nome bonito, Doutor ! É doença de gente rica, é?
- Não . É doença dos humanos. Não tem classe social. É o famoso “Bico de Papagaio”.
- Meu Deus! Eu sabia que a alma daquele bicudo vinha me perturbar. É maldição. Ele não foi pro céu dos passarinhos.
Ele veio se vingar. Não me perdoou.
- Acalme-se , Dona Cleusa! Vou prescrever a receita e a senhora vai ficar boa.
- Não, Doutor! Tenho que pagar meu crime . O chumbinho que coloquei na comida do bicudo não era para matar. Era só um castigozinho e ele não resistiu.
O médico educadamente pediu que Cleusa se acalmasse , pois estava atônito com a sua reação.
Cleusa em prantos saiu devagarinho resmungando :
- Puxa , bicudo ! Eu até gostava de você. Eu só odiava aquele gorda... gorda...gorda... Mas você foi malvado ! Por que não repousou sua alma no meu pé, por exemplo! Foi logo escolhendo o meu lombo. E, agora, como o Onório vai brincar de cavalinho comigo? Triste sina!
- Credo, Onório, praguejava Cleusa. Ter que conviver com esse bicudo, já é um castigo.
- Qual nada, mulher. Ele é falante e até canta um trecho do hino do Corinthians.
- Não duvido? Nossa vizinha Selma vai ficar tiririca. Ela é botafoguense rachada.
- Gorda! Gorda! Gorda!
- Cala esta boca, bicudo !
De nada adiantavam as ordens de Cleusa. Quanto mais berrava , mais o loro cantava:
- Salve o Corinthians ... Gorda... O campeão... Gorda...
- Miséria! Vou te matar, ameaçava e o bicudo calava meio amedrontado.
O tempo passou. A vizinha não suportando os insultos, mudou-se. O loro parou de cantar? Jamais. Parecia um CD que nunca arranhava. Até que numa manhã chuvosa Onório espantou-se ao ver o papagaio esticado na gaiola.
- Cleusa, acorda, o bicudo morreu.
- Maluqueceu marido ? Ontem, antes de dormir ainda escutei aquela canção que ele compôs pra mim.
- Venha ver. Morreu babando o pobre!
Cleusa nem olhou o pássaro, passou de fininho e pediu ao marido que o enterrasse no fundo do quintal. O sepultamento era uma tarefa que a aterrorizava, ainda mais o do bicudo cantor e praguejador.
E o tempo que não para , trouxe a Cleusa umas dores lombares.
-Onório, amanhã vou ao médico do SUS. Marquei consulta no postinho do PSF.
- Fez bem, mulher. O Doutor Fagundes entende de mulheres. Ele apalpa, apalpa, até descobrir a doença. O compadre
Juca comentou que a comadre voltou da consulta com umas manchas roxas, mas que ele acertou no remédio, ah! Acertou.
- Mas comigo vai ser diferente! Vou logo pedindo pra bater uma chapa.
A visita ao consultório foi só o tempo de fazer o Raio X e descobrir o motivo das dores.
- Dona Cleusa , a senhora sofre de Osteofitose.
- Nome bonito, Doutor ! É doença de gente rica, é?
- Não . É doença dos humanos. Não tem classe social. É o famoso “Bico de Papagaio”.
- Meu Deus! Eu sabia que a alma daquele bicudo vinha me perturbar. É maldição. Ele não foi pro céu dos passarinhos.
Ele veio se vingar. Não me perdoou.
- Acalme-se , Dona Cleusa! Vou prescrever a receita e a senhora vai ficar boa.
- Não, Doutor! Tenho que pagar meu crime . O chumbinho que coloquei na comida do bicudo não era para matar. Era só um castigozinho e ele não resistiu.
O médico educadamente pediu que Cleusa se acalmasse , pois estava atônito com a sua reação.
Cleusa em prantos saiu devagarinho resmungando :
- Puxa , bicudo ! Eu até gostava de você. Eu só odiava aquele gorda... gorda...gorda... Mas você foi malvado ! Por que não repousou sua alma no meu pé, por exemplo! Foi logo escolhendo o meu lombo. E, agora, como o Onório vai brincar de cavalinho comigo? Triste sina!
3 comentários:
Este merecia ser publicado em qualquer dessas revistas que coostumam trazer crônicas de gente famosa. Esta melhor que que muitas crônicas que se lêem nos cadernos literários.. Gostaria de conhecer a vizinha botafoguense. Este louro merecia chumbo mesmo.
Marcio
Dulce
Você sabe quando a gente se depara com um texto e pensa assim: Pôxa eu gostaria de ter escrito isto!
Ahahahahahahahah! Inspiradíssima, garota! Excelente!
Parabéns pela criatividade, pelo bom humor, neste texto que nos remete a coisas bem brasileiras.
O que fará crescer em qualidade o grupo Carrossel é justamente a peculiaridade do estilo e o universo que cada um de nós trará para somar. ADOREI! Beijo da Fatima
e até terça lá no DEK!
Dulce você sabe quando a gente se depara com um texto e pensa assim:
Pôxa eu gostaria de ter escrito isto! Ahahahahahahahah!
Inspiradíssima, garota! Excelente!
Parabéns pela criatividade, pelo bom humor, neste texto que
nos remete a coisas bem brasileiras. O que fará crescer em qualidade o grupo Carrossel é justamente a peculiaridade do estilo e o universo que
cada um de nós trará para somar.
O texto evidencia aspectos recorrentes na conduta de muitos como, por exemplo,a paixão pelo time de futebol, o pavor que resulta do mal cometido por pessoas
que não sabem aceitar suas características físicas ou psicológicas, etc
É evidente que ninguém com um mínimo de educação ou discernimento, cometeria a
atrocidade de envenenar um papagaio. Entretanto pessoas destrambelhadas existem,
e fazem parte do caldo que gera textos e personagens.
Ah! Márcio: conheço outra... de um papagaio vascaíno que é um barato!
Abraço da Fatima
Postar um comentário