sábado, 19 de março de 2011

Cruz e Sousa – (* 24 novembro 1861 + 19 março 1898)




FLOR DO MAR


És da origem do mar, vens do secreto,
do estranho mar espumaroso e frio
que põe rede de sonhos ao navio
e o deixa balouçar, na vaga, inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante afeto,
as dormências nervosas e o sombrio
e torvo aspecto aterrador, bravio
das ondas no atro e proceloso aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e rosas
surges das águas mucilaginosas
como a lua entre a névoa dos espaços...
Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
auroras, virgens músicas marinhas,
acres aromas de algas e sargaços...

Um comentário:

Anônimo disse...

É de uma beleza inexplicável, como deve ser a própria beleza, capaz de deixar nossa alma em estado de graça.É preciso lê-lo repetidas vezes para sentir cada vez mais o ritmo e o envolvimento de um soneto simbolista. Pela escolha dos versos, arisco dizer que foi postado por Fátima Michels. Se não o foi, cumprimento de qualquer forma, quem se lembrou no dia de hoje homenagear nosso maior poeta.
Márcio Rodrigues